sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

'Divã do Faustão’, equívocos e o poder da televisão

Patrícia Kogut

Betty Monteiro, psicóloga do 'Domingão' (Foto: Reprodução) 
Betty Monteiro, psicóloga do 'Domingão' (Foto: Reprodução)
 
 
No seu “Domingão”, Fausto Silva vem apresentando um quadro intitulado “Divã do Faustão”. Ele conta com a colaboração de uma psicóloga, Betty Monteiro, e de artistas convidados que se revezam a cada semana. Os temas debatidos são, em geral, leves. Na última edição, ouvimos, por exemplo, o drama de Robson, que tem 33 anos e usa um penteado meio moicano. Por esse motivo, sofre com críticas da ex-mulher. Em seguida, Maria da Penha, de Goiânia, contou que, apesar de ter descoberto a traição do marido, não quer se separar. Conhecemos também Renilson, dispensado pela ex-mulher que quer reconquistar. A ele, Faustão dirigiu um comentário especial: “isso se chama ‘síndrome da comida caseira’, o cara vai a restaurante, mas tem saudade de comer em casa”. Nada disso ofende.
Mas o que precedeu essa sucessão de depoimentos foi muito diferente. Instada pelo apresentador, a psicóloga, segundo ele, “especializada na área de mãe”, analisou o caso do atirador da escola de Newtown. Em rede nacional, para milhares de espectadores, disse que iria explicar “resumidamente” o que é um psicopata. “É um sujeito que não consegue se colocar no lugar do outro. Não tem pena de ninguém. Não sente culpa. Não sente medo. Pode até achar que fez um bem”, explicou. Nisso, foi interrompida por Faustão que quis saber então porque Adam Lanza se matou. “Talvez por medo de assumir a responsabilidade”. Ué, ele sente medo ou não?
Mas o pior da análise na linha “conheça Freud e um pouco de neurociência num curso por correspondência” foi quando ela mencionou Asperger, fazendo uma salada misturando a síndrome com psicopatia. “Estão dizendo que ele (Lanza) tinha Asperger. É um tipo de autismo em que a pessoa faz contato e às vezes é considerada inteligente”, falou, agora abusando da ideia do que é fazer um resumo. A menção à essa condição mobilizou milhares de pais. Por diversos motivos: passada uma semana do acontecido, em Connecticut ninguém ainda conseguiu entender o que levou o garoto de 20 anos a perpetrar o massacre. Além disso, o autismo, embora muito comum e estudado, ainda é um grande mistério. E motivo de angústia para inúmeras famílias.
A psicóloga seguiu alertando os telespectadores para o que pode ser um sinal de que seus filhos, quem sabe, no futuro, cometam alguma atrocidade. Um deles é: bebê que chora muito (quem é mãe sabe que são quase todos). E frisou: “um bebê que não sorri também não é legal”. No mesmo pacote dos que choram muito, mencionou “aquela criança que acha ótimo cortar o gato para ver como é”. Outro conselho foi para prestar atenção quando algo anormal ocorre, porque “tem mãe que é cega, basta lembrar o caso da Suzane Richthofen, cuja mãe era psiquiatra”. Como assim?
A lição que fica diante dos milhares de protestos que ocupam as redes sociais desde então é que a TV, mais que todas as mídias, tem o poder de formar opiniões. Não pode tratar de temas sérios com leveza e sem fornecer informação.

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