quarta-feira, 29 de abril de 2015

Ecolalia: aliada ou vilã da comunicação de autistas?

Pensar em comunicação é pensar em partilhar, dividir, compartilhar, trocar informações. A comunicação é a base para as interações sociais e emocionais entre as pessoas. A capacidade de comunicar é complexa, envolve o desenvolvimento de habilidades verbais e não-verbais e, principalmente, a capacidade em usá-las de maneira adequada no contexto social.  
Desenvolver comunicação é mais do que falar. É ser um interlocutor ativo nas diferentes relações sociais e isso quer dizer que a linguagem deve comunicar sobre o que o indivíduo deseja, quer, conhece e sente. Seja através da fala ou através de gestos, expressões faciais, entonações, troca de figuras e etc.
As pessoas típicas aprendem a se comunicar através de um processo de desenvolvimento da intencionalidade, sendo este o uso significativo do comportamento verbal (fala, gestos, ações) para a interação com outras pessoas. Porém, em se tratando da síndrome do autismo, o desenvolvimento da comunicação não costuma acontecer da mesma maneira.
A comunicação das crianças do espectro autístico tem várias particularidades e não segue o mesmo percurso de desenvolvimento observado em crianças típicas. Crianças autistas apresentam dificuldades que variam desde problemas na recepção da informação (linguagem receptiva), dificuldades de expressão ou até mesmo no uso social e funcional do que já adquiriu de linguagem. Um dos sintomas mais comuns dentre as características da linguagem no autismo é a presença da ecolalia.
A ecolalia é comumente definida como a repetição da fala do outro. Este sintoma vem sendo mencionado desde as primeiras descrições do Transtorno do Espectro Autista. Tal comportamento pode ocorrer em pouco tempo ou imediatamente após a fala modelo (ecolalia imediata), ou ainda, após um tempo significativamente maior de sua produção (ecolalia tardia). Desde então, estas têm sido consideradas as duas categorias mais conhecidas de ecolalias identificadas na linguagem de indivíduos autistas. Porém há ainda a situação em que podem ser feitas modificações da emissão ecoada, seja imediata ou tardia, para fins comunicativos (ecolalia mitigada).
Independente da forma como a ecolalia aparece, o que prevalece é a dúvida do quanto tal comportamento pode ser aproveitado para incentivarmos a comunicação.
Tendo em mente que a aprendizagem acontece através da imitação do comportamento do outro, tal habilidade em ecoar é propícia ao desenvolvimento da linguagem, levando em consideração principalmente o fato de que, no desenvolvimento normal, as pessoas passam por um período muito significativo de ecolalia. Porém é necessária muita atenção para que tal comportamento ecóico não se torne patológico. A habilidade de ecoar se torna inabilidade a partir do momento em que o conteúdo da informação está afetado, comprometendo as trocas comunicativas e, consequentemente, dificultando as interações sociais.
A prática clínica me permite dar algumas dicas que podem ser úteis para o manejo de tal comportamento no dia-a-dia de pessoas ecolálicas:
Deixe claro para a criança qual o momento em que é adequada a repetição: muitas ecolalias acontecem porque nem sempre está claro o momento que a criança deve repetir. Modelos lingüísticos são dados constantemente às pessoas que, após repetir, recebem um reforçamento pela resposta dada. Se você quer que a criança repita, dê o comando: “repete”.
Esteja sempre atento ao que a criança está produzindo verbalmente: sempre que as produções forem espontâneas, dê um reforço diferencial.
Quando a criança repetir uma instrução: sua repetição deve ser ignorada. Porém é necessário que execute a ação sem repetir o que lhe foi dito. Instrua-a novamente e a ajude imediatamente a fazer a ação. É importante ter o entendimento que a ação deve ser executada rapidamente e com o suporte físico para que não haja tempo de repetição.
Quando a criança repetir uma pergunta: deve-se ignorar sua repetição, fazer a pergunta novamente e dar uma dica imediata de resposta.
Quando a criança repetir um comentário: aceite a repetição, mas não a reforce. Tenha sempre a preocupação em usar comentários, elogios e etc diferentes, para enriquecer o vocabulário expressivo da criança.
Quando a repetição for tardia: sempre que possível contextualize, ou seja, dê função para a fala emitida. Porém, caso a emissão não tenha contexto e, principalmente, se persistir, a mesma precisa ser ignorada e deve-se tentar chamar a atenção para o que está sendo feito ou dar instruções, principalmente, que envolvam movimentos com a boca. Ex: “manda beijo”, “mostra a língua” e etc.

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